Em mais uma participação no Portal Guaçuano o Professor Iggor Rapp escreve um artigo explicando sobre o Convid-19. Leia e tire algumas das suas duvidas ainda que você tenha ainda sobre este assunto que é um dos mais comentados em todo o nosso Mundo.
Covid-19: O que realmente estamos enfrentando?
Estamos enfrentando uma situação sem paralelos recentes. No mundo, há quase 5 milhões de casos de Covid-19 já identificados e infelizmente mais de 300 mil mortes. No Brasil, estamos chegando a 270 mil infectados e 17 mil mortes. Com esses números, nós, brasileiros estamos chegando à 4º colocação em número de casos, correndo o risco de sermos o novo epicentro da pandemia, ou seja, o centro de irradiação da doença. Mas como a situação chegou nesse patamar? Como podemos sair? O que estamos realmente enfrentando? Eis algumas respostas, mas não todas.
A covid-19 é uma doença causada por um vírus, o SARS-Cov2. Aliás, tanto doença quanto vírus têm nomes formados por siglas que dizem muito das suas características. Covid-19 significa COronaVIrus Disease (doença de coronavirus), o número refere-se a 2019 o ano de emergência da doença. SARS vem do inglês (Severe Acute Respiratory Syndrome – Sindrome respiratória aguda severa), Cov é de coronavírus e o 2 é por que já é o segundo da variedade a surgir.
Os primeiros casos foram registrados na cidade chinesa de Wuhan, na província de Hubei. Todos os casos estavam de alguma forma relacionados ao mercado de Huanan e por isso acredita-se, até hoje, que a passagem desse vírus para os seres humanos tenha ocorrido nesse local. O oftalmologista Li Wenliang, foi o primeiro médico a alertar sobre a nova doença, mas foi calado pelas autoridades chinesas o que atrasou a resposta algumas semanas. Após três semanas o próprio médico Li, de 34 anos, morreria por covid-19. Após o dia 20 de janeiro, a China fecharia a cidade de Wuhan e decretaria estado de emergência, mas mesmo com essas medidas, ainda em janeiro, a covid-19 estava presente em 25 países e já havia matado cerca de 500 pessoas. Mas como é a doença?
O SARS-Cov2 é transmitido pelo ar e pode contaminar por algumas horas superfícies. Quando o ar ou mãos contaminadas entram em contato com boca, nariz e olhos pode haver a transmissão. Por isso lavar, com água e sabão, mãos e rosto ao entrar em casa, ou higienizar, com álcool, objetos e compras é tão importante. Essas ações descontaminam por retirar das superfícies qualquer partícula viral. As máscaras possuem efeito duplo, impedem a contaminação dos usuários e impedem que os usuários contaminem os que estão a sua volta.
Essas medidas ainda tomam ainda mais importância quando pensamos que ainda não há nenhum tratamento eficaz contra a covid-19. Vários medicamentos estão sendo testados, mas parece já haver um consenso de que a cloroquina não é eficiente. Então a decisão de utilizar ou receitar esse medicamento não tem nenhum suporte científico, sendo uma decisão embasada em outros interesses que não o bem-estar dos pacientes. Vacinas estão sendo testadas e provavelmente, de junho e agosto já tenhamos algo promissor. Mas repito: não há nenhum tratamento efetivo para a covid-19. E por que a doença é tida como tão grave?
Para responder a essa pergunta devemos analisar o vírus. O SARS-Cov2 é um coronavírus, sua origem é duvidosa, porém há fortes indícios na sequência de seu único gene suportando que morcegos, ou pangolins são sua fonte natural. Além disso, MERS e SARS são outras coronaviroses cuja fonte são outros mamíferos. Dessa forma, tanto a Genética quanto observações passadas suportam que a origem está relacionada a mamíferos. E para você que acha que o vírus foi fabricado, tenho más notícias. Um estudo mostra que, em relação aos vírus mais próximos, o SARS-Cov2 possuem modificações em suas características que não melhoram em nada sua interação com células humanas. Por que alterar um vírus em laboratório se essa modificação não irá interferir no seu funcionamento?
As primeiras notícias mostravam que o vírus poderia infectar células pulmonares. Isso seria possível uma vez que o SARS-Cov2 consegue se ligar a proteína ACE2 situada nas superfícies das células do pulmão. Porém, sabe-se que essa proteína também está presente em outras células do corpo humano, tais como: rins, testículos, coração e vasos sanguíneos. Isso quer dizer, que potencialmente, o vírus poderia infectar outros órgãos. Dito e feito! Há pelo menos um estudo sendo conduzido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que mostra a invasão de células neuronais pelo vírus. Além disso, um estudo publicado em 13 desse mês mostra que o SARS-cov2 assim como outros coronavírus podem infectar, de fato, o intestino de seus hospedeiros. Esses estudos mostram que o vírus não está de brincadeira e pode infectar outros órgãos não somente o pulmão.
Esse fato pode explicar os sintomas que estão muito além da falta de ar, da febre ou da dor de cabeça. Já há relatos do começo da pandemia de pacientes que desenvolveram sintomas com distúrbios intestinais (dores e diarreia), perda de paladar e olfato. Porém, agora sintomas nervosos progressivos começam a ser relatados: formigamentos nos quatro membros, perda da força muscular, paralisia e até dificuldade em engolir líquidos. Além disso, muitos médicos relatam algo incomum: pessoas que parecem assintomática, apresentam concentrações de oxigênio muito baixas. Baixas o suficiente para os médicos se perguntarem como a pessoa ainda está viva. Por isso, afirmo que essa doença é muito mais do que uma gripezinha.
Se os sintomas preocupam, a velocidade de contágio da Covid-19 pode ser pior. Para se ter uma ideia do baque, a SARS de 2003 infectou 8500 pessoas em 21 países num período de 1 ano. Em 6 meses de covid-19 temos mais de um milhão de infectados. Alguns comparam essa doença com a H1N1 que nos atingiu em 2009, a comparação não é justa: a covid-19 fez o mesmo estrago em metade do tempo. Em 2009, a H1N1 matou cerca de 370 mil pessoas em um ano, e como os números apresentados lá em cima vocês podem perceber a gravidade. Uma doença com sintomas graves já relatados, com um poder de disseminação altíssimo e sem tratamento descoberto (cloroquina não trata covid-19), o que fazer?
A solução é amarga, mas tem respaldo no que já ocorreu: isolamento social. E vou mostrar isso agora. Para isso me embasar em um estudo mostrando o isolamento social durante a gripe de 1918 (ou gripe espanhola), e com as políticas adotadas por alguns países: Suécia, Japão, Coréia do Sul e EUA. No estudo sobre a gripe espanhola, uma equipe formada pelo MIT e pelo Banco Central norte-americano analisaram a velocidade, intensidade e impacto econômico da pandemia e das quarentenas implementadas em 43 cidades norte-americanas. O que eles acharam? Que quando o isolamento social foi feito de maneira mais agressiva e precoce, a economia das cidades se recuperaram mais cedo. Aquelas cidades que, ou não fizeram quarentena ou interromperam precocemente essa medida, pagaram caro economicamente. Isto é, o único erro dos governadores que propuseram a quarentena está no fato de fazer isso muito tarde.
E no presente o que temos? Até agora, os países mais bem-sucedidos no enfrentamento da covid-19 são aqueles que isolaram a sua população e propuseram um grande número de testes mesmo para quem não apresentava sintomas. Esse é o caso da Coréia do Sul que já testou 500 mil pessoas, isso dá cerca de 10 testados a cada 1000 pessoas. Se o governo brasileiro quisesse ter os mesmos números, já teríamos testados 2 milhões de pessoas. Até 20 de abril tínhamos testado cerca de 130 mil pessoas, e agora devemos estar dobrando esse número, mas mesmo assim estamos longe do ideal. Essa falta de teste faz com que haja infectados não detectados, por isso os números oficiais são menores do que os reais. Isso quer dizer que há pessoas circulando por aí infectadas e transmitindo sem que o governo ou a própria pessoa tenha noção disso. Esse é mais um motivo para ficar em casa.
Mas deve ter um jeito de atenuar a quarentena e fazer a economia rodar, certo? Aqui estão os nossos próximos exemplos: EUA, Suécia e Japão. No início da epidemia dentro de cada um desses países, os governantes tentaram não interferir nas atividades econômicas salvaguardando somente os idosos e outros integrantes do grupo de risco. Essa medida é conhecida como isolamento vertical. Os governos desses países, instituíram o isolamento social, fechando o comércio e outras atividades econômicas, além de escolas. Suécia, agora, são os países com maior número de casos na Escandinávia e proporcionalmente o país mais infectado. EUA, em números absolutos, é o país com maior número de infectados e mortos por covid-19 no mundo. Ou seja, países que não quiseram seguir o isolamento social desde o começo amargam uma posição triste no ranking da covid-19.
Que caminho o Brasil está tomando? Olhem o noticiário, vejam a adesão ao isolamento. Hoje, estamos com 200 mil infectados oficiais (e não reais) e mais de 17 mil mortos oficiais (e não reais). Com esses números, já somos o sexto país mais infectado no mundo. Talvez esses números mostrem o caminho que os governantes brasileiros adotaram. Eu entendo a angústia dos trabalhadores, afinal de contas ninguém tem a vida ganha, porém não é negar os fatos que deixará as coisas melhores. Ao contrário, deveríamos utilizar o conhecimento já criado para entendermos a nossa real situação e à luz desse entendimento unirmos e exigirmos atitudes cabíveis de quem é responsável pela população.
Saiba mais:
Comparação com a H1N1
Comparação com a gripe espanhola
Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu
Sobre a Coréia do sul